sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Qual a relação "ENVC e Desemprego"?

Já viram como os Estaleiros podem servir como explicação da redução do desemprego em Portugal? Pois atentem: Os ENVC vão despedir uns 620 e dizem que "vão ser reintegrados até 400" mas em três anos. Esquecem-se é de dizer que estes reintegrados vão ganhar praí menos 60% que os anteriores.

Isto no fundo é o que está a acontecer no mercado de emprego do país: Umas quantas centenas de milhares perderam o emprego nos últimos anos e agora alguns estão a ser "readmitidos", daí a redução da taxa de desemprego. Contudo, estão a ser readmitidos com salários inferiores ao SMN. Boa. Viva a Modernidade! Viva o Progresso!

domingo, 24 de novembro de 2013

O caos preventivo

Caso o PR decida não enviar o OE14 para fiscalização preventiva corremos o risco do Constitucional chumbar normas que violam a Constituição em meados de 2014, nas vésperas do regresso aos mercados. [As decisões de anos anteriores foram conhecidas em Abril, Maio, Julho e Agosto]. Só um governo que esteja desejoso pelo caos - para, por exemplo, justificar novos ataques à Constituição e culpar o Constitucional pelo fiasco governativo - é que pode ser contra a fiscalização preventiva.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Fomento

Ou muito me engano ou a criação deste banco de fomento foi o primeiro passo do processo de privatização da CGD

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Reflexão: Radical

A palavra “radical”.
“Que ou quem se encontra distante do que é considerado normal ou tradicional. [Política]   Que ou quem é partidário do radicalismo. = RADICALISTA; Que é drástico ou brusco. [Política]  Que quer reformas absolutas em política.”
Há algo que não percebo no actual panorama ideológico português.
Ora, alguém defender um corte nos juros que pagamos pela dívida pública exorbitante é radical mas cortar nos subsídios de maternidade e doença, por exemplo, ou nas pensões e salários a partir de 600 euros, não é? [continuar a ler]

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O vizinho do apartamento de cima




Vivia no apartamento de cima. Era o vizinho mais simpático que tinha. Sorria sempre que me cruzava com ele, ou cada vez que lhe levava os sacos das compras até ao quinto andar. No fim do Verão, das minhas férias, fui levar-lhes um saco com batatas, cebolas e ovos que os meus pais mandaram de propósito para eles. Reparei que já não tinha grande força para agarrar o saco, mas sorriu-me de volta, agradeceu-me: “Obrigado, menina Liliana”. Não precisavam, mas eu gostava de lhes trazer comida da terra. E eles também. Soube hoje que tinha morrido. Não sei quando, não tive coragem de perguntar à dona América, a mulher, que depois de 53 anos lado-a-lado o descreveu assim: “Era o meu melhor amigo”. Chorou. Vestida de preto dos pés à cabeça disse-me que tem estado sozinha em casa. Doeu-me.

Há três anos que me disse como se chamava. Esqueci-me. Lembro-me de outras coisas mais importantes do que a etiqueta do nome. Nunca mais lhe perguntei o nome porque isso não interessava. Para mim era o marido da dona América e o vizinho mais simpático que eu tinha. Era o vizinho que dizia aos meus pais - das poucas vezes que cá vieram - que eles tinham uma “rica filha”, ou que pôs a minha avó a chorar quando lhe disse que gostava muito de mim. E disse-o sem conhecer muito da vizinha do 4º dto. Sabia apenas o que lhe dizia quando falava com ele na soleira da porta ou à mesa de jantar. Foram poucas vezes, deviam ter sido mais. Fazemos pouco, muito pouco por quem tem tanto para dar. Eu fiz pouco.

Não tive coragem de perguntar há quanto tempo tinha sido, tal como não tive coragem de me encarar por há mais de um mês não os ir visitar. Estou triste porque já não vou ouvir o meu vizinho de cima arrastar cadeiras no chão. Mas fico ainda mais triste por me dar conta que vivo num mundo onde uma pessoa desaparece e a vizinha de baixo não dá conta disso. E eu sou a vizinha de baixo.

Hoje lembrei-me de Tomásia Ofélia. Ela também morreu e só eu dei pela falta dela em Lisboa. 

http://www.ionline.pt/artigos/portugal/novas-rendas-lei-entrou-porta-dentro-ameaca-roubar-lhes-casa



quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Portas, o verdadeiro artista de circo


“Um circo é comumente uma companhia em colectivo que reúne artistas de diferentes especialidades, como malabarismo, palhaço, acrobacia, contorcionismo, equilibrismo, ilusionismo, entre outros”. (retirado da wikipédia)

 
Há quem diga que um bom político é, acima de tudo, um bom actor. No caso de Paulo Portas, eu diria que, mais do que um actor é um verdadeiro artista de circo. É que consegue reunir em si próprio as seis diferentes especialidades deste espectáculo tão do agrado da criançada e não só.  

Com o seu ar “pose de Estado” e sem nunca se rir das suas palhaçadas, o ex-Paulinho das Feiras conseguiu apresentar um documento com as orientações para uma reforma do Estado que parece que já está em curso há dois anos mas que até nem é para aplicar nesta legislatura. Talvez na próxima. Logo se vê.

Mas quais são então as “novas” orientações do ministro que que se demitiu em Julho garantindo que era uma decisão “irrevogável” e que se ficasse no governo “seria um acto de dissimulação”? O principal desígnio é basicamente “Menos Estado em troca de menos impostos”. Mas não tem sido isto que Portas tem defendido desde que entrou na política e assumiu a direcção do 'O Independente'?

Do guião só consegui vislumbrar duas medidas concretas novas. A de concessionar a gestão das escolas aos professores e a de criar (mais) uma comissão para reformar o IRS no próximo ano. Muito pouco para quem esteve mais de nove meses a trabalhar no assunto. Demorou até mais do que o programa eleitoral do CDS que "foi feito ao longo de seis meses" por "vinte grupos de trabalho, em que participaram mais de cem colaboradores" que "aprofundaram o diagnóstico do país e arregaçaram as mangas para trabalhar nas soluções".
 
Um programa que não era "curto nem longo", que procurava ser "completo". Não era "simplista nem tecnocrático". Procurava ser "focado". Não era "criticável por ser mais do mesmo - como o do PS - nem tão pouco por ser insuficiente - como o do PSD" e não se limitava a "enunciar princípios".
 

A promessa de redução de impostos e de reposição das perdas salariais em 2015 é mais um acto de pura de demagogia que só o líder do CDS consegue tão bem fazer (o Manuel Monteiro andou lá perto mas nunca atingiu o seu nível) pois as exigências de consolidação orçamental serão as mesmas ou até maiores como Portas muito bem sabe. 
 
Sem qualquer tipo de vergonha na cara, Portas chegou a afirmar até que "a permanência no Euro é incompatível com a demagogia". Naquele momento ainda pensei que ele ia anunciar a saída de Portugal da moeda única mas era só mais uma frase para não levar a sério. 
 
Citando o que Vasco Pulido Valente disse em relação a José Sócrates, o extraordinário não é que Portas se leve a sério, o extraordinário é que o levem a sério.
 
 
P.S. Já alguém do PSD reagiu ao documento?