quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Ética, mentiras e falta de vergonha

A minha primeira reacção à afirmação de Passos Coelho, no novo talk show da RTP, sobre o comportamento do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, foi de incredulidade. Então “não há nada de grave no comportamento do Dr. Rui Machete que ponha em causa nem a credibilidade do Governo nem, muito menos, do Estado português.”?

Passado o choque inicial, lembrei-me que esta não foi a primeira vez que Passos Coelho desvalorizou o facto de um ministro seu mentir descaradamente na Assembleia da República. Às duas mentiras desavergonhadas de Miguel Relvas há que juntar ainda o processo da "licenciatura" em tempo recorde e as contradições de Maria Luís Albuquerque no dossier dos swaps.

Vamos por casos. O que disse o primeiro-ministro quando foi questionado sobre o facto de Miguel Relvas ter mentido no Parlamento ao afirmar que, enquanto administrador da empresa Finertec, nunca tinha reunido com Jorge Silva Carvalho, o espião contratado pela Ongoing, para tratar de negócios? Limitou-se a lamentar o eco dado pela comunicação social a matérias “não provadas” ou “dadas como falsas” e garantiu que o seu ministro-adjunto “nunca teve negócios nenhuns com Silva Carvalho”.

E o que afirmou quando foi confrontado com outra das mentiras de Relvas, que negou a pés juntos nunca ter ameaçado uma jornalista do Público por estar a noticiar as contradições do ministro no caso das secretas? Limitou-se a assegurar que “não há nenhum ataque a coisa nenhuma". "Se há coisa que o governo tem privilegiado é muita transparência nesse aspecto”, disse ainda o primeiro-ministro, escusando-se a responder a mais questões dos jornalistas.

E como reagiu quando se soube que Miguel Relvas “tirou o curso” em Ciência Politica e Relações Internacionais na Universidade Lusófona, em pouco mais de um ano? “Não tenho nada a comentar, porque tanto quanto sei não há nenhuma irregularidade que tenha sido apontada. Para mim é um não assunto.”

E o que declarou quando lhe apontaram as contradições de Maria Luís Albuquerque no dossier dos swaps? “A secretária de Estado do Tesouro colocou o seu lugar à disposição” mas “não consideraria” essa possibilidade “a menos que tivesse fundadas dúvidas” sobre “o prejuízo para o Estado da sua permanência."

Ontem, ainda a propósito de Rui Machete, o primeiro-ministro afirmou também que "mesmo que o ministro, por qualquer razão, tivesse sentido necessidade de sair do Governo – que não foi o caso, mas suponha que isso poderia até acontecer –, nunca aceitaria numa circunstância destas oficializar um problema na relação bilateral com um país tão importante para os portugueses e para Portugal como é Angola aceitando a demissão do ministro."
 
Então mentir ao Parlamento, violar o princípio sagrado da autonomia do Ministério Público e pôr em causa o próprio Estado de Direito não é grave? Se isto não é grave então gostava de saber quais as situações que o primeiro-ministro considerará graves e que o possam levar a demitir um governante.

Definitivamente, Passos Coelho não tem estatura ética e moral para ocupar o cargo de primeiro-ministro.

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