domingo, 13 de outubro de 2013

Viúvas pensionistas "ricas" que paguem a crise ou a pressa de conseguir 100 milhões




Já nem falo do facto de o governo ir colocar uma condição de recursos numa pensão do regime contributivo – há quem defenda que se deve discutir se faz sentido sê-lo. E eu até concordo com essa discussão, desde que atrelado a isso existisse uma redução das contribuições na mesma medida -, mas porque raio andou o governo a desenhar uma condição de recursos que afinal é apenas um corte nas pensões de sobrevivência no caso de quem acumule com outra pensão?
Por partes.
Primeiro. O governo decidiu fazer um corte progressivo nas pensões de sobrevivência para quem tenha rendimentos acumulados superiores a dois mil euros com duas ou mais pensões. Para avaliar a justiça social desta medida é preciso ter em conta que: no caso das pensões da Segurança Social, há uma grande probabilidade de estes viúvos já terem em cima a Contribuição Especial de Solidariedade; e no caso das da Caixa Geral de Aposentações podem acumular além deste corte, a CES e ainda o corte resultante da convergência dos regimes público e privado de pensões (que ditará um corte na ordem dos 10% se passar no Tribunal Constitucional).
Segundo. Porque deixa o governo de fora os viúvos e as viúvas com outro tipo de rendimentos? Porque vá lá, uma viúva com dois mil euros de pensões (sem outros rendimentos) não é rica. Não vive mal, é certo, mas não é rica. Desde quando começámos a pensar por baixo? Desde que começámos todos a ser a geração quinhenteurista e, para os mais sortudos, a mileurista? Não desviando do assunto: porque preferiu deixar de fora os rendimentos de capital, de salários e outros? Porque preferiu o governo fazer este corte nas pensões das viúvas (são sobretudo mulheres a receber esta pensão) que são pensionistas e não em quem está no activo, ainda com anos de trabalho pela frente, que lhe possam proporcionar o mesmo nível de rendimentos?
Para quem não sabe, uma mulher com menos de 35 anos, que esteja casada com um pensionista que morra, tem direito à pensão de sobrevivência durante cinco anos. Com 35 anos ou mais, tem direito à pensão até morrer. Não era mais justo ir buscar a estes beneficiários do que a quem está no fim da vida? Ok, se calhar é uma questão de euros e de rapidez. Então façam um favor: não tentem passar esta medida como sendo da maior justiça social.
Resposta do vice-primeiro-ministro: “Para futuro” pensaremos numa forma de justiça social para abranger estes casos. Porque não agora? Porque a medida foi desenhada à pressa? Parece-me que sim. Por agora, o corte médio para estes pensionistas será de 4 mil euros/ano, qualquer coisa como 285 euros por mês (assumindo que ainda têm 14 meses de rendimento que não têm).
Há cortes e cortes e este até nem é o pior de todos. Mas o que me irrita mesmo é esta necessidade de só discutirmos cortes. Se eu acho que neste contexto até é justo pedir a quem tem mais (assumindo que quem ganha dois mil euros pertence a esse lote), também me chateia esta coisa de só discutirmos a redução do Estado social e não o seu alargamento. Muitos dos avós que recebem pensões e conseguem alguma liquidez extra ao final do mês ajudam os filhos e os netos. Esta transferência entre gerações é importante também para manter a economia equilibrada. Não me parece que retirar estes cem milhões tenha grande impacto, mas cem milhões, mais 3,5% de CES, mais 10% de convergência…

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